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Caridade Une Vicariato Jacarepaguá No I Dia Mundial Pelo Pobre

Caridade Une Vicariato Jacarepaguá No I Dia Mundial Pelo Pobre

Em resposta ao pedido do Papa Francisco, que instituiu o Dia Mundial pelo Pobre, a Arquidiocese do Rio de Janeiro realizou ações sociais em todos os vicariatos. No dia 15 de novembro, a Paróquia Santa Luzia foi sede do encontro do Vicariato Jacarepaguá. Cerca de 50 pessoas em situação de rua foram atendidas e tiveram a oportunidade de tomar banho, trocar de roupa, tomar café da manhã, cortar os cabelos e almoçar.

Além disso, os atendidos receberam mensagens preparadas pelos jovens da comunidade e assistiram a uma encenação teatral. O almoço foi servido com música ao vivo e a programação ainda contou com atendimentos psicológicos e sociais, apoios jurídicos e encaminhamentos para emissões de documentos.

Para o pároco e também Vigário Episcopal, padre Robert Chrząszcz, a ação social gerou muitos frutos nas pessoas atendidas, mas, principalmente, nas pessoas que serviram. Segundo ele, todos se emocionaram e puderam perceber que a caridade é um ato de extrema importância.

“Nós conseguimos atender 37 homens, 13 mulheres e 3 crianças, e agradecemos ao Papa Francisco pelo convite a fazer esse trabalho, que nos torna bons samaritanos na vida real. Foram poucas horas de atendimento, mas isso modificou as pessoas. Era perceptível ver a dignidade no rosto de todos eles. E ao perceber que o povo demonstrou interesse em realizar essa ação social mais vezes, estamos pensando em repetir o evento com mais regularidade, conforme a nossa possibilidade”, declarou.

Uma das coordenadoras da ação solidária e integrante do movimento Somos Preciosos – que se reúne na Paróquia Nossa Senhora de Fátima e Santo Antônio de Lisboa, na Taquara -, Zélia Maria de Oliveira Vieira, disse que o grupo começou levando quentinhas para pessoas em situação de rua, mas ao perceberem que as necessidades dos atendidos também eram outras, começaram a buscar capacitação para trabalhar em todas as frentes.

“Nosso movimento une os dons e talentos de cada um, nossas profissões são colocadas a serviço do Senhor e a gente tenta viver todos os dias a premissa de que a fé sem obras é vazia. Desta forma, a gente precisa ter obras para que a nossa fé se fortaleza ainda mais”.

Zelia confessou que quando viu a instituição do Dia Mundial pelo Pobre, em um primeiro momento se chocou, por conhecer muita gente que vive da pobreza material, mas que é sobretudo, espiritual. Para ela, a iniciativa do Pontífice é um convite para que os católicos saiam em busca do Cristo que está além dos muros da Igreja.

“É gratificante acolher esse pedido do Papa porque as pessoas em situação de rua perderem suas famílias e referências, e a partir disso, vivem uma pobreza muito maior.  Além do mais, isso pode gerar a perda da fé. Por essa razão, hoje foi um dia muito bom pois conseguimos acolher e dar atenção individualizada a todas as pessoas”.

Mônica Casemiro dos Santos Fonseca é paroquiana e faz parte da Pastoral da Criança. Participando pela primeira vez de uma ação solidária com pessoas em situação de rua, ela explicou que escolheu servir neste dia porque é impulsionada como ser humano e como cristã a realizar gestos concretos.

“A gente escolhe muito na vida; e aqui é uma concretização de fé porque você vê a realidade daqueles que não tem opções. E isso nos chama a ser gente, especialmente neste momento de desigualdade gritante pelo qual o nosso país passa”.

Profissional da área da saúde, Mônica esteve atenta as necessidades médicas dos atendidos. Na hora do banho sua atenção foi direcionada a um senhor com dificuldades pulmonares, que a impressionou com um exemplo de superação.

“Quando bati o olho percebi que ele tinha algum problema respiratório, então a partir disso fiquei pertinho o tempo inteiro. Ele quase não conseguiu tomar banho e estava com muita dificuldade de respirar. Naquele momento eu me projetei na minha realidade de trabalho porque tenho pacientes que possuem o apoio da família e toda assistência médica necessária; e ele estava ali, sozinho. Mesmo assim ele agradecia a Deus e pedia por todos os voluntários que estavam servindo. Em visto disso, gestos assim não tem preço. No fundo eles que nos fazem o bem e nos resgatam”, revelou.

Michel Lopes Da Silva, serviu a maior parte do tempo nos banhos e ressaltou que algo tão cotidiano e natural para nós, faz muita diferença na vida de quem vive na rua.

“Antes de vir para a igreja eu parei um morador de rua, falei para ele sobre a ação social e o que haveria, mas quando eu falei que teria banho, ele me disse: “então eu quero ir!”. A gente percebe que as pessoas chegam tristes e abatidas, mas depois do banho, a fisionomia muda e muitas vezes não se reconhece a pessoa. Imagina alguém por uma semana sem tomar banho, convivendo com outras pessoas; isso gera discriminação. E um banho, por mais simples que seja, dá dignidade as pessoas”.

Testemunhos de vida

Simone Sueli Lisboa Moura já conseguiu sair das ruas e hoje mora em uma casinha. Ela disse que resolveu participar para poder tomar um banho, ganhar doações e aproveitar o dia de solidariedade.

“Aproveitei para vir e pegar uma roupa para o meu esposo que não pode estar aqui. Também estou levando uma lembrancinha para minha filha que mora com a minha mãe. Podia ter mais vezes porque foi muito tranquilo. Me senti bem e chorei quando cantaram os louvores da Igreja”.

Diferente de Simone, Ailton Valdemberg da Silveira ainda não conseguiu um teto para morar. Há 20 anos vivendo em situação de rua, o ex empresário elogiou o Papa Francisco pela atitude para com os que mais necessitam.

“O Papa Francisco não sabe o que bem que fez para a alma dele com essa obra. Para mim o dia foi ótimo porque é difícil achar pessoas que queiram ajudar. Todos foram muito carismáticos e a presença do padre também foi importante; não teve fila e todos foram atendidos. O que para nós é de uma imensa alegria, porque, infelizmente, existe muita mentira dos poderosos que dizem estar ajudando, mas não saem do lugar para abraçar um mendigo sujo”.

Ailton relatou, que mesmo diante de todas as mazelas que assolam as pessoas em condições de rua, o importante é ter dignidade, autoestima a e não perder a fé em Deus, mesmo que isso seja custoso.

“É difícil viver porque são muitas coisas ruins ao nosso redor. Fome, miséria, doença, violência, beleza física que acaba…mas se a pessoa tiver fé e amor, tudo isso passa. Deus habita em nós e faz a vontade Dele no Seu tempo, basta aceitarmos”.

Ao contar um pouco mais de sua história, ele disse que a arrogância foi responsável por grande parte de seus erros, o que culminou com a mudança para as ruas.

“Eu me achei acima da lei e do dinheiro, mas aí Deus me mostrou a verdade. Já estou há 20 anos na rua, não me casei, não tenho esposa e filhos. Tinha perdido a minha perspectiva e achava que a humanidade não se salvaria, mas hoje, depois de conhecer a palavra de Deus, eu tenho um sonho: fazer faculdade de administração”.

Para o sonhador de fala fácil e sorriso aberto, a consolidação desse sonho seria abrir uma empresa e auxiliar os que estão nas ruas; drogados, mendigos, aleijados, adolescentes que se prostituem porque não tem o apoio dos pais. Simplesmente ajudar as pessoas a voltarem a viver, a exemplo de Jesus.

“Eu disse a Deus diante do Santíssimo Sacramento: Deus, me tire da rua! Dê as condições para que isso se torne realidade, usa dos meus talentos. Eu sou músico, toco teclado, sou bombeiro hidráulico, pintor de edificações. Eu ajoelhei e dei a minha palavra. Se Deus me conceder a graça, será bem usada”, afirmou.

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