Domingo de Ramos abre a Grande Semana da nossa fé, a Semana Santa, que culminará com a Solenidade da Páscoa, no próximo final de semana. Neste domingo concluímos também a Campanha da Fraternidade (Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida) com a Coleta Nacional da Solidariedade. O tema continuará a ser uma inspiração durante o ano, com o lema: “Cultivar e guardar a criação”. Neste final de semana viveremos ainda a Jornada Diocesana da Juventude. (Tema: “O Todo poderoso realizou grandes coisas em meu favor”)
Ao iniciar a Semana Santa fazemos a memória da Entrada do Senhor Jesus em Jerusalém. Ele é o Filho de Davi, o Messias esperado por Israel, que vem tomar posse de sua Cidade Santa. É um Messias humilde, que entra num humilde burrico, sinal de serviço e pequenez. Ele é Rei, mas rei coroado de espinhos e não de humana vanglória. Participar desta solene procissão de ramos é reconhecê-Lo como nosso Rei e Senhor. Tê-Lo seguido é nos dispor a segui-Lo nas pobrezas e humildades da vida, dispondo-nos a participar de sua paixão e cruz para ter parte na glória de sua ressurreição.
Reconheçamos na voz do Servo sofredor, da Primeira Leitura (cf. Is 50,4-7), a voz do Filho de Deus: “O Senhor Deus me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhes resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para arrancarem a barba. O Senhor é o meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, porque sei que não serei humilhado”(cf. Is 50,4b-7). O Filho buscou humildemente, na obediência de um discípulo, a vontade do Pai – e aí encontrou força e consolo, encontrou a certeza de sua vida.
São Paulo, na Segunda Leitura (cf. Fl 2,6-11), confirma isso com palavras não menos impressionantes: “Jesus Cristo, existindo na condição divina, esvaziou-se de si mesmo, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz”. Em Cristo, num mundo que nos tenta a ser os donos da verdade, desprezando os preceitos do Senhor Deus e seus planos para nós, aprendamos a humilde obediência de Cristo Jesus, entremos em comunhão com o Cristo obediente ao Pai até a morte. Só então seremos livres realmente, somente então viveremos de verdade!
O Concílio Vaticano II, na Constituição Pastoral Gaudium et spes, nº 22, diz: De certo modo, o próprio Filho de Deus se uniu a cada homem pela sua Encarnação. Trabalhou com mãos humanas, pensou com mente humana, amou com coração de homem. Nascido de Maria Virgem, fez-se verdadeiramente um de nós, igual a nós em tudo, menos no pecado.
O Domingo de Ramos é também o Domingo da Paixão, pois lemos pela primeira vez na semana a “Paixão do Senhor” (Mt 26,14 – 27,66). Constatamos que o hosana entusiástico transformou-se, dias mais tarde, num grito furioso: Crucifica-O! Por que foi tão brusca a mudança, por que tanta inconsistência? São Bernardo comenta: “Como eram diferentes umas vozes e outras”! Fora, fora, crucifica-O, e bendito O que vem em nome do Senhor, Hosana nas alturas! Como são diferentes as vozes que agora O aclamam Rei de Israel, e dentro de poucos dias dirão: Não temos outro rei além de César! Como são diferentes os ramos verdes e a Cruz, as flores e os espinhos! Àquele a quem antes estendiam as próprias vestes, dali a pouco O despojam das Suas e lançam a sorte sobre elas.
Os ramos que trazemos nas mãos significam que reconhecemos Jesus como o Messias de Israel, prometido por Deus. Significam também que nos dispomos a segui-Lo como o Servo que dá a vida na cruz. Levaremos estes ramos para casa. Devemos guardá-los num lugar visível durante todo o ano, para recordar nosso compromisso de seguir o Cristo num caminho de humildade e despojamento; segui-Lo ainda quando não compreendemos bem os desígnios de Deus para nós.
A Igreja nos lembra que a entrada triunfal vai perpassar todos os passos da Paixão de Cristo. Terminada a procissão, mergulha-se no mistério da Paixão de Jesus Cristo: Em Is 50,4-7 descreve o Servo sofredor, na esperança da vitória final. Vemos nele a própria pessoa de Jesus Cristo. Em Fl 2,6-11 temos a chave principal de todo o mistério deste Domingo de Ramos: Jesus humilhou-Se e por isso Deus O exaltou!
Iniciamos a Semana Santa! Os símbolos, cânticos e tantos outros sinais nos são devolvidos depois dos 40 dias de penitência quaresmal. Entremos com o coração aberto para “fazer Páscoa”! Nesta liturgia somos convidados a iniciar com fé a grande semana, pois nesta vivenciamos grandes mistérios na vida de Cristo. Ao olhar para cada um deles, possamos crescer na fé, no amor e na humildade. São dons que precisamos exercer a cada dia de nossa vida, e nada melhor que aprender com Jesus.
Ao renovarmos os compromissos batismais na próxima Vigília Pascal, selaremos nosso compromisso de viver como cristãos num mundo em mudança; a Palavra ouvida será luz em nosso caminho e a Eucaristia participada alimento no caminhar de nossa vida.
D. Orani João Tempesta, O.Cist.
Cardeal Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro
Fonte: ArqRio